Aula De Português Para Refugiados É Retrato Da Migração
01-12-2019 @damiaoppffd 0.00000010
Aula de português para refugiado
Dei azar: no dia em que marquei para acompanhar uma aula de português para a cidade ficou tumultuada após algumas pancadas de chuva. Uma das professoras do Instituto Adus — organização não governamental que trabalha com a integração desses migrantes — avisou seus alunos, no início da tarde, que não teria como comparecer às lições daquela noite.
Coube à coordenadora do curso, Monica Nakajima, receber esta repórter do R7 e os poucos alunos que não foram atrapalhados pelo aguaceiro.
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No 11º andar de um prédio daqueles antigos no centro da capital paulista, o que era para ser duas turmas de dez migrantes se tornou só uma, de quatro. “Geralmente, começamos o ano com classes mais cheias, que vão diminuindo ao longo dos meses — conforme os migrantes mudam de cidade ou encontram um trabalho”, Monica me explicou.
“Os que continuam são, na maioria das vezes, quem mora perto ou tem um objetivo definido, como prestar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) ou a prova para revalidação do diploma universitário. Esse horário da noite é para os que saem do serviço e vêm estudar.”
O Haiti da República
O primeiro a chegar foi o haitiano Jean Romain, 33, que vive no Brasil há dez meses e faz as aulas de português há seis. “Também falo crioulo, francês e um pouco de inglês.”
Jean é um dos mais de 115.000 migrantes haitianos que residem no Brasil hoje, de acordo com dados divulgados pela Polícia Federal no último mês de setembro.
Por ora, ele trabalha como costureiro em uma cooperativa no bairro paulistano da República. Mas o objetivo, ao estudar a quarta língua, é um dia terminar o curso de engenharia, que começou no país natal, e seguir na profissão. Quem sabe, aprender música.
“Vim para o Brasil em busca de melhores oportunidades. No Haiti, não temos muito como melhorar. E não há segurança”, prosseguiu, ainda engasgando entre uma palavra e outra.
O sírio Mohammad, à esquerda, vai às aulas de português para prestar o Revalida
Pouco antes das 19h, o segundo aluno a entrar na sala foi o sírio Mohammad Almasri, de 32 anos — que, antes de chegar ao Brasil, seis meses atrás, viveu quase uma década na Jordânia.
“Lá, eu não podia estudar ou trabalhar na área em que queria — sou veterinário — simplesmente pelo fato de ter nascido na Síria”, revelou, em português mais desenvolto, ainda que carregado de sotaque.
Morando e trabalhando no bairro do Brás, Mohammad pode ser considerado uma representação precisa da maior parte dos sírios que residem na capital paulista: mais de 37% dos 604 que chegaram aqui no último ano estão nas zonas central e leste, segundo mapeamento publicado pelo Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) em parceria com a Caritas Arquidiocesana de São Paulo.
No Brasil, Mohammad pretende aprender o idioma para prestar o exame de revalidação de seu diploma — processo já em andamento na UFF (Universidade Federal Fluminense).
“Quero fazer a prova, me estabelecer e trazer minha família, que ainda está na Síria”, disse.
Aulas para as mulheres
A professora Monica Nakajima
Arquivo pessoal
Enquanto o sírio me contava sua história, os jovens Yessika e Wellington, primos que vieram da República Dominicana, foram os últimos a chegar — e, ainda sem intimidade com os outros dois colegas, prontamente se sentaram nas carteiras ao fundo da sala.
Ainda que pequena, a configuração da turma completa rendeu um bom retrato da de todos os entrevistados para o mapeamento do Acnur em parceria com a Caritas no ano de 2018, 36% eram mulheres e 64% eram homens.
“Quando começamos com as aulas de português, em 2015, só havia homens que vinham para o Brasil tentar uma vida melhor e depois trazer os parentes. Agora, são muitas famílias. As mulheres estão vindo. Os homens pensavam que elas não precisavam vir, que podiam ficar em casa com os filhos, mas hoje elas vêm, inclusive com as crianças”, comentou a professora Monica.
Empatia e jogo de cintura
Na opinião de Monica, a empatia é imprescindível na hora de ensinar português aos refugiados — motivo pelo qual os materiais são pensados especialmente para eles.
“Queremos que eles saiam se virando, sabendo como falar em uma farmácia, em um hospital, no transporte público. Até por isso preparamos conteúdo próprio: as tarefas frequentemente aplicadas em aulas de idiomas, para estrangeiros em geral, abordam turismo, negócios, como fazer um pedido em restaurante, uma reserva em hotel... Tudo muito distante da realidade dos refugiados”, pontuou.
Jogo de cintura para responder questionamentos que acabam sendo engraçados também é importante, conforme me relatou Monica: “Uma vez, em uma aula sobre adjetivos, uma aluna perguntou se podíamos usar a palavra ‘gostoso’ para descrever pessoas. Eu disse que, na casa dela, com o companheiro, até podia”, riu.
“Em outro dia, alguém quis saber por qual motivo as pessoas não dizem simplesmente ‘obrigada’ ou ‘obrigado’. É sempre ‘obrigada, viu?’ ou ‘obrigado, viu?’”, completou.
Das abreviações ao riso
A aula daquela quarta começou com um vídeo. Na gravação, uma mulher listava as abreviações que, no cotidiano, são comuns entre os falantes da língua portuguesa: “você está bem?” se torna “cê tá bem?”, “estou aqui” vira “tô aqui”, etc.
Aproveitando a deixa, Monica passou a falar com os alunos sobre sotaques e elementos que ganham nomes diferentes conforme a região do país — a começar pelas comidas: “No Rio de Janeiro, se diz biscoito, enquanto aqui em São Paulo é bolacha”, exemplificou.
“O que os brasileiros chamam de pastel, no Haiti pronunciamos como ‘patê’”, acrescentou o haitiano Jean Romain.
Da mesma forma que as expressões na forma coloquial do português, as distâncias entre Brasil, Haiti, Síria e República Dominicana foram se encurtando na sala de aula. O aluno sírio entrou no embalo: “No resto do mundo, meu nome é Mohammad. Mas aqui no Brasil é ‘Morraméd’”. A resposta dos colegas se deu em um idioma universal: o do riso
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